Cicatriz
Cicatriz
Meu depoimento, 2018
Fui mordido durante uma aula.
Uma aluna levantou-se, atravessou a sala entre as pranchetas, eu de costas na lousa, segurou-me pela cintura e mordeu-me por trás, perto do ombro. Saiu correndo em seguida.
Em casa minha mulher perguntou que marca era aquela nas minhas costas. Olhei no espelho e estava lá a marca da mordida. Cheguei a esboçar um gesto de quem ia responder, mas logo desisti. Não adiantaria.
Fui para o ateliê e comecei a série Cicatriz recortando quadrados em folhas previamente pintadas a guache. Folhas que estava usando para estudar combinação de cores.
Uns outros quadradinhos recortados em papel vegetal foram, agrupados lado a lado em filas e colunas, fazendo um fundo sobre o que sobrepus outros tantos quadradinhos de vegetal perto do centro. Sobre eles, em LetraSet, a palavra cicatriz desenhou a marca nas minhas costas. Feita uma cópia heliográfica, acrescentei costura com linha colorida acompanhando a curva da cicatriz.
Gabriel Borba