A Mão da Moça
Mão da Moça não Sabe Costurar
Meu depoimento, 2018
Frase atribuída a Picasso chama minha atenção: "Quando eu tinha 15 anos sabia desenhar como Rafael, mas precisei uma vida inteira para aprender a desenhar como as crianças".
É o caso da Mão da Moça não Sabe Costurar, desenho elaboradamente canhestro, metonímia da ausência de uma habilidade especificamente atribuída à “moça(s)”.
Remete à contemporaneidade anunciada no sec. XIX, além e com a Revolução Industrial. À passagem da Luizinha, em Primo Basílio, Eça de Queiros, à Mary Wollenstonecraft, pioneira dos direitos femininos.
Não saber costurar, simbolicamente, é uma perda que representa uma conquista.Eis a contradição.
A Mão da Moça não Sabe (mais) Costurar.
Em visita a Millôr Fernandes vi, encantado, seus desenhos e o modo como os fazia.
Rabiscos, colagens e figuras feitas para reprodução impressa em jornais e revista tinham, nos originais, aparência desastrosa. Percebi que a mistura de recortes, tampa de garrafa, rabiscos sobre uma figura desenhada canhestramente era meticulosamente estudada para o propósito expressivo.
Pensei nisso para a minha participação na exposição GEROX, gravuras em xerox que estávamos combinando.
Aceitei participar imaginando que a cópia xerox podia introduzir uma prática contestatória, mais que uma inovação, no circuito da arte. Por exemplo assinar e numerar cópia com número/Infinito, diferente do Hudinilson que a praticava como sua obra, essa sim inovadora.
Ao mesmo tempo lembrava da experiência com a visita ao Milor. Usei o desenho A Mão da Moça... para aproveitar as textura e nuances de cinzas possíveis extraídas do colorido, quando reproduzido como branco e preto de pouca definição do Xerox. Usei papel colorido, para dar fundo aos meio tons resultantes.
Dois outros desenhos seguiram o mesmo princípio, nestes, nankin, lapis e aguada, um deles com colagem.
Gabriel Borba