Pequeno Mobiliário Brasileiro
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A Galeria PM8, sob curadoria de Francisco Salas, traz para sua sede o projeto Pequeno Mobiliário Brasileiro recentemente apresentado na exposição Picasso, Le temps des Conflit do Carré D'Art em Nimes, França.
Apresentado à sua época em cópia heliográfia, como de hábito em projetos de design e arquitetura, terá nessa mostra seus originais em papel vegetal tal como apresentados em Nimes, desta vez acompanhado de estudos que o precederam e de dois protótipos elaborados pela Galeria PM8 que enriquecem e esclarecem o procedimento adotado na transformação de estruturas visuais em estruturas físicas, escopo deste projeto, como mostra a Galeria PM8
Gabriel Borba, 2019
Gabriel Borba quis com este projeto criar 5 estruturas especificamente feitas a partir de algumas figuras apresentadas em Guernica de Pablo Picasso, um projeto que o ajudou a pensar sobre como transformar uma estrutura visual em estrutura física. De modo que as cadeiras do Pequeno Mobiliário Brasileiro se materializassem em recipientes para estes angustiados e feridos personagens que habitam a famosa pintura de Picasso.
Pequeno Mobiliario Brasileiro foi a continuação de uma pesquisa anterior que começou nos tempos de Universidade de Gabriel Borba, formalizada em 1969-1970 na forma de algumas estruturas criadas para a apresentação de seu trabalho de graduação.
O artista fez 5 painéis, nos quais desenhou [segundo níveis de representação diferentes] o desenvolvimento completo dessas 5 cadeiras ou estruturas até seu resultado final. No primeiro estágio de cada painel aparece reproduzido um personagem da pintura Guernica. Em baixo do desenho inicial vêm-se diferentes desenhos feitos a partir de outros artistas históricos que podem também ter influenciado Picasso, como Poussin. Há também importante referência ao artista brasileiro Cândido Portinari [artista conhecido no Brasil nos anos 40 e 50 do século XX que foi também reconhecido como representante da cultura regional popular. Uma de suas pinturas reproduzida no primeiro painel retrata um enterro dramático]. Em seguida no que pode ser considerado como o terceiro nível se vê figura de Picasso [no jeito de Gabriel] sentada ou assentada em uma cadeira ou estrutura, e finalmente chegamos ao desenho técnico que é o desenho final da cadeira. Cada painel tem a estrutura de um projeto de arquitetura, Gabriel é arquiteto e sua prática artística é também informada pelo seu estudo arquitetônico.
Na exposição estão em exibição os painéis originais apresentados na Bienal de Paris de 1977 com alguns protótipos dessas cadeiras [especialmente produzidos para esta mostra] que nunca foram exibidos antes [de fato muito mais um exercício intelectual experimental do que funcional]. Estes protótipos recém-construídos serão apresentados junto com outra documentação original deste trabalho de importancia histórica e política de 1977.
Gabriel sempre foi muito impressionado pelo Guernica, pintura que era um ícone perfeito do sofrimento e da dor humanos causados pela guerra e por conflitos políticos. Seu interesse aumentou no tempo em que ele voltou ao seu país [depois de estudar nos EEUU, Itália e França] onde ele encontrou e encarou um regime ditatorial e repressivo. O que é fascinante sobre o Pequeno Mobiliário Brasileiro é que não é apenas uma derivação formal desses objetos significativos e especiais mas como um importante histórico e político trabalho torna-s uma nova fonte para a criação e a pesquisa sob o contexto de privação de liberdade.
Pequeno Mobiliário Brasileiro foi mencionado em uma crítica do crítico austríaco Otto Hahn na revista francesa L’Express Magazine.
PM8 Galeria, 2019