Gerox

Gerox, 1979

Exposição coletiva

Organizada por grupo de artisata em locha na Avenida Faria Lima, São Paulo

Gerox

Meu deoimento

 

Em visita a Millôr Fernandes vi, encantado, seus desenhos e o modo como os fazia.

Rabiscos, colagens e figuras canhestras, uma vez impressos em jornais e revistas, eram aproveitadas para o meticulosamente estudado propósito expressivo. Cores e rabiscos de múltiplas pontas arranjados com variada mistura de material de colagem, uma vez impressos adquiriam homogeneidade espantosamente vibrante.

Pensei nisso para a minha participação na exposição Gerox, gravuras em xerox que estávamos combinando, a ser apresentada em 1979 no Espaço Max Pochon, loja inativa, emprestada aos artistas, na Avenida Faria Lima, em São Paulo.

O Título Gerox, sugerido por Julio Plaza, era estimulante por misturar xerox e gravura. Conforme o combinado, muitos de nós, não todos, assinamos no "modo gravura", datando e numerando a cópia com n/infinito.  O delírio de muitos, levando-se a sério, acreditava que a cópia xerox podia introduzir uma prática contestatória, mais que uma inovação, no circuito da arte. Tiro no pé: hoje, raras que são, essas cópias tornaram-se fetiches, distantes de sua significância inicial, disputados tal como as cópias da publicação OnOf; da publicação Receita de Arte Brasileira e outras do gênero. Em 2017 a Getty Foundation patrocinou a Exposição Copy Art in Brazil na Galeria da Universidade de San Diego, California, USA, com muito, senão tudo, do que foi apresentado em Gerox e com belíssimo livro/catálogo assinado por Erin Aldana e Erin Mayne. Na boa hipótese colaboramos com o sistema, ampliando seu horizonte com ideias nascidas de nossas preocupações. 

Era época em que vicejava a prática de formação de grupos, por engajamento, pela busca de facilidades ou mesmo para o simples estar junto.

Há já algum tempo usávamos essas cópias simples e rápidas, o xerox entre elas, como modo de atender novos e criativos aspectos de produção, expressão e distribuição do que fazíamos e pensávamos. Estávamos de acordo, em princípio, com o quesito distribuição, mas erra quem pensa que havia unanimidade nos motivos. A unanimidade era a animação.

Como tantos outros que trafegavam por variados meios de expressão, eu já tinha usado o xerox, em particular em Tachas de 1975.

Animado com a exposição Gerox, aproveitei o estudo para A Mão da Moça não Sabe Costurar e, mirando Millor, sobre ele trabalhei com aquarela, anilina, hidrográfica, pastel... para aproveitar as textura e nuance de cinzas possíveis, extraídas do colorido quando reproduzido. Copiei em xerox sem destacar a folha do caderno de anotações. Depois fiz outros dois com propositada mistura de materiais e os "homogeneizei” copiando-os em xerox sobre papel colorido. Foram Poeta e Chuva.

Gabriel Borba, 2020

Conjunto da Obra

O Vento Uiva, ouça, 2020

video performance online

Obras, Séries e Coleções: O Vento Uiva, ouça

Exposições: Flusser 100 Anos

O Vento Uiva, ouça

Meu depoimento

Para celebrar os 100 de Flusser, em evento online, optei por um video simples baseado na profunda impressão deixada por episódio da minha experiência como seu assistente. Tive a colaboração de Monai de Paula Antunes, pesquisadora de arte, colaboradora do  Vilém Flusser Archiv, Berlin, tudo feito por recursos de telefone celular, vencendo a distância que nos separava.

O conjunto a que dei o título O Vento Uiva, ouça é composto por Declaração; manifestação Poética sobre Texto lido e Finale.

 

Declaração

Trabalhei com Flusser por alguns anos. Era seu assistente. Naqule tempo ele costumava pedir-me que lesse em voz alta aquilo que escrevia. Em uma ocasião pediu-me que lesse Ventos que está no livro Natural:Mente. Mas ele queixou-se que eu lia muito rápido. Retomei a leitura mais devagar e concentrado. Mergulhei no texto, senti o vento e suas variantes e, em um certo ponto umas tantas linhas me emocionaram. Esforcei-me para que não se notasse. Mais uma página até o fim, li a última citação "this is all the wisdom I can reap: I came like water and like wind I go" (esta é a única sabedoria que posso apanhar:  eu vim como água e como vento eu vou). Abaixei o livro, levantei os olhos e percebi que alguma coisa tinha mudado.

Gabriel Borba para O Vento Uiva, ouça

 

 

Texto sob manifetação Poética

“... o vento uiva, isto é, fala. Portanto não é coisa. Coisas não falam. O vento não é um algo; é alguém a quem devo responder, é um tu que me chama para eu ser eu. Por ser um tu, o vento não pode ser imaginado, concebido, conhecido e manipulado. Deve ser ouvido, recebido, reconhecido e seguido. Quando vento é imaginado, concebido, conhecido e manipulado, como é na técnica e teoria, deixa de ser vento e passa a ser movimento de ar, é “objetivado”. E o vento não é objeto: é meu Outro. Não é; existe. Por isso diz Buber: “Deus não é: creio n’Ele”. E Angelus Silesius”Ich weis,  das ohne  mich Gott nicht ein Nu kann leben“ =sei que sem mim Deus não pode viver sequer um instante. O vento é vento para mim, se eu lhe permitir ser vento. E se não lhe permitir, será movimento de ar, e não vento. Se não lhe permtir ser vento, será problema da aerodinâmica parcialmente já resolvido. Mas se lhe permitir ser vento, será enigma. Se não lhe permitir ser vento perderá a voz, e passará a ser vibração em decibéis manipuláveis. Será mudo. Mas agora, nesta noite em que cerca minha casa com fúria desesperada, o vento fala. Porque estou disposto a ouvi-lo. Por isso, a prece que diz “Chemá Israel, JHVH elohenu JHVH ekhád” (ouça, lutador por Deus, JHVH é nosso Deus, JHVH é um), é prece e não afirmação indicativa. Diz: “ouça!”. O vento que cerca minha casa com fúria desesperada nada indica; impera. Se eu lhe permitir isto. Essa é a sua mensagem. A despeito de todas as interferências ainda a recebo em noites como esta. “

Vilém Flusser, Natural:Mente, São Paulo, Duas Cidades,1979 (Ventos, trecho)

 

Finale

"and this is all the wisdom I can reap: I came like water and like wind I go" ("e essa é toda sabedoria que posso alcançar: vim como água, e como vendo eu vou")